segunda-feira, 1 de abril de 2013

amor


o amor fosse então uma entidade, material a seu modo
flutuando num entre-mundo de forma a percorrer a ponte
então tocava nele, roçava ele no meu corpo
guardava ele no bolso...
só que amor não existe
há quem objete que amor é o nome que se dá a algo
e que esse algo há de ser amor por força
porque foi inventado assim e assim será!
e se o que for esteja longe da ideia do que seja?
OK: amor não é amor porque amor seria coisas distintas que se negam,
uma ideia à outra
ai, porra, vi.
o amor é, alternadamente...
fragmentos que quando capturados nada dizem sobre o todo
ou uma coisa de dopamina, de serotonina, uma reação química
então o amor exista
só que amor não existe...
diabo! esse vácuo no meu coração fosse a prova disso...

sábado, 16 de fevereiro de 2013

"O problema não é z, são os z-istas"




 “Nunca subestime o poder de muita gente burra junta.”
George Carlin

O fungível momento aniquila-se em sua gênese. Somam-se páginas, tomos, apanhados de todos os tipos ao nauseabundo orbe da Literatura. Assenta-se a poeira sobre a inércia das coisas inertes. A velhice rói os ossos, faz fenecer os músculos. E o bestiário humano faz senão alardear reiteradas vezes a estupidez em forma de grunhidos.

Que tenho pra falar de novo? Weitzenhoffer já comparou discutir com um religioso a jogar xadrez com um pombo. Eurípides disse que quando se tenta apresentar a razão a um imbecil ele te tomará por imbecil. Concordo com não me lembro quem quando este disse que liberdade de expressão é um direito reivindicado frequentemente por aqueles que esqueceram ou não cuidam de exercer a liberdade de pensamento. Este texto não há de reclamar escopo entre esses suínos. Este é só uma confissão pra quem já está do meu lado.

Odeio e repudio o Cristianismo. Coloco-me neste momento como anticristo. Não reconheço nem respeito a instituição da fé, que nada mais é que uma desculpa para encerrar discussões antes do fim, para se evadir do ônus da prova.

Meu problema é com os (ainda que pseudo-)cristãos reais, não com os cristãos de verdade que não existem, e portanto não são de verdade. O que ocorre é que sempre que eu critico os cristãos, x culpa y e diz que y é o “cristão errado”. E vice-versa. Assim os cristãos que existem reivindicam legitimidade através de um Cristão platônico inexistente, cada um afirmando a própria identidade como a desse Cristão com c maiúsculo, repudiando as barbaridades do passado e cometendo outras, que serão condenadas pelos cristãos vindouros. Dessa maneira, o autoproclamado Cristão exime a Igreja da culpa dos crimes dos cristãos ao se afirmar como único representante do Cristianismo. Mas se esse Cristão porventura se revelar um pária, a relação com o Divino que o sustentava como representante é desfeita e a instituição se safa. Meu objetivo de vida é desmascarar esse mecanismo maligno, atacar o Cristianismo como uma religião de pessoas, que existe e que é imputável através delas. E se alguém for oprimido em nome do Cristianismo, de algum de seus dogmas, ainda que dogmas propostos por pessoas, o Cristianismo deve responder por isso. Mesmo que muitos, sim, muitos, apresentem um Jesus amável, que perdoa, que diz que quem não tem pecado que atire a primeira pedra, quero me livrar desse símbolo contaminado pela História.

Inventa-se essa dicotomia entre o cristão verdadeiro e o falso. A definição é simples, o falso é o outro. Os extremistas são criticados pelo extremismo e os moderados pela moderação, uns pelos outros. Repudio a todos, porque cada um se estabelece como parte do mecanismo de sobrevivência do grande organismo parasitário. Temos sempre um lado a e um lado b, ou bem c, d... E eles esperam pra ver quem será selecionado pela moral da próxima geração pra poder roubar o dinheiro dela.

Quando as pessoas se juntam em hordas de centenas de milhões todas sob um mesmo estandarte, pregando um mesmo livro, cada um seletivo à sua maneira, não há uma verdade una nesse livro: não sejam tolos, o livro se permite interpretar de diversas maneiras -- e algumas dessas maneiras me provocam ojeriza.

Mesmo os fiéis mais indulgentes não negam que a indulgência exige a transgressão. Todos eles chamam de abominação às mesmas coisas. Se o Silas quer tomar o lugar de carrasco, isso não torna melhores os letárgicos que apenas preferiram deixar o chicote na mão de deus, confiando que as minhas (nossas) costas sentiriam o peso de sua poderosa mão.

Não reconheço nem respeito quem quer que eu morra!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Ela me comeu


Sua figura de bestialidade mítica feminina. Os pelos que brotavam da carne vulvária se abriam como as plantas buscando o sol, como um prado curvado às hélices metálicas de um helicóptero. Suas bocas, todas, arfavam em respiração ofegante.

Uma vez deixei a chave do lado de dentro. Estilhacei uma báscula e entrei pela janela. Nas chuvas da minha promessa adiada de recolocar o vidro, muitas vezes, como um hálito sujo, o vento puxava as cortinas pra fora, sugava as cortinas pra fora.

Assim também o fez ela.

Seus peitos grandes e listrados como uma zebra se assentavam quando ela deitava. Duas bolhas flácidas, adiposas. Os mamilos se contradiziam ao dar as direções.

Seu corpo tombado era de mérito turístico. No interior das coxas, duas manchas pretas de queimaduras. Seu sabor se assemelhava muito ao de muitas outras.

Mas diferente de tantas plantas que florescem a beira-estrada, ela me tomou. Ela me subjugou. Ela me comeu. Seus músculos vaginais moeram as aldravas duma passividade atribuída, moeram a minha pica, reduziram a pó e cinza minha fé de raízes rasas.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Omitir é mentir?


Eu não sei qual é a definição de mentira que você usa. A minha, cá entre nós, é bem abrangente. Por exemplo, você conhece a história de Tristão e Isolda? Grosso modo, Tristão comeu Isolda, que ia se casar com o rei que ele servia. No final das contas, quando ela teve que fazer um juramento pra Deus e pro rei de que era virgem (o que, parece, as pessoas da Idade Média levavam muito a sério), ela armou um embuste lá, em que tinha uma porra de uma poça na frente de onde ela tinha que jurar pro rei. O Tristão, que tava fantasiado de mendigo ou coisa parecida, “teve” que pegar a Isolda no colo, deixou ela sentada nos ombros dele (cena, aliás, muito esquisita e muito improvável) pra ela fazer o juramento. Aí ela disse alguma coisa do tipo “Juro que ninguém nunca esteve entre as minhas pernas além de Vossa Majestade e este mendigo aqui”.

Mas esse juramento não escapa de uma contradição. Se você acha mesmo que você tem que dizer a verdade ou Deus (ou outra coisa) vai te castigar, como é que você justifica todo esse esforço justamente no sentido contrário, o de enganar? Quer dizer que você acha mesmo que se trata da maneira como você articula as palavras?, da maneira como você dá à voz os fatos? Quer dizer que você acredita que a diferença consciente entre as suas palavras e a realidade percebida que ela descreve é capaz de acionar um mecanismo metafísico que vai sacudir a conjuntura e a estrutura do Universo numa sucessão de acontecimentos que vai terminar por comer o seu cu, mas que com um simples joguinho semântico você pode, tãrã!, se evadir da sua responsabilidade? Você tem que ser muito imbecil.

Você é condenado à liberdade, pessoinha. Você escolhe fazer, você escolhe deixar de fazer, mas você não pode deixar de escolher. E toda escolha tem suas implicações, ay, there's the rub!

As pessoas deveriam avaliar as suas ações de um ponto de vista mais pragmático e com consequências políticas sérias. Se a sua intenção é x, é assim que você tem que tratar dela. Não é ficar inventando joguinhos, não. Do mais, há o lugar-comum de que os seres pensantes pensarão. Será?

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

I'm Back!

Eu, brindando aos meus 21 anos

Bebi alguma coisa e resolvi dar cabo desse hiato criativo. Nada como um revigorante chá de folha de coca vindo direto de Cusco, no Peru, que um amigo trouxe para mim este fim de semana. Foi meu aniversário, essa sexta. A bem da verdade, eu vinha andando deprê demais para escrever qualquer coisa. Que teria feito? Fumado um cigarro na sacada do Bay Market e observado os pombos em busca de inspiração? De certo, as bichas indo e voltando teriam sido matéria-prima dalguma crônica sobre a liturgia do rendez-vous nos banheiros públicos, e de como saem uns após uns, de intervalo em intervalo, o que é protocolar desses encontros furtivos, e, como que para se chacoalhar de sua austeridade constrangida, tomam uma casquinha no quiosque do McDonald’s... Mas, ah, tenha dó!...
Vou é parafrasear Garrett e dizer que o teclado do meu laptop é mais cobiçoso. E como Viagens na minha terra não é lá bem um best-seller, talvez a referência ecoe vazia em meia dúzia de crânios.
Enfim, vamos pôr as fofocas em dia. Li uma dezena de livros, caminhei sozinho na mata com fones no ouvido, sentindo o estalo dos gravetos no chão, catando folhas no cabelo, suado, assoviando. Mantive um überlongo jejum sexual, abstive-me do fumo e da bebida (tá, nem tanto)... Foram meses benfazejos!
Benfazejos sim, mas como este blog é casto como os lençóis de um prostíbulo, será outra a minha matéria. É dum relato em terceira, quarta mão.

I

Há essa tal casa abandonada em... Trata-se duma casa velha, muito espaçosa, muito antiga. Diz-se ter pertencido a certo... O assoalho de madeira, lustres, parte do encanamento, uns bustos aqui e acolá, a maior parte das portas e janelas foram subtraídos da edificação, de forma que os compartimentos se comunicam livremente através de aberturas disformes e as reminiscências assim dispostas congregam-se num aspecto de arcabouço. Em certos cômodos a estrutura cedeu duma maneira tal que as paredes ameaçam precipitar-se inteiras sobre o chão, agora desguarnecido; em toda parte observam-se os efeitos do abandono remoto, e o ar tristonho e miserável do prédio vê-se até na vegetação hirta e ebúrnea que se lhe entranha por entre as gretas. São muros altos, eivados de infiltrações; o revestimento se desprende sozinho da parede, e desnuda em alguns pontos a alvenaria maciça de barro cozido. No vão entre os dois braços do muro, há um portão enorme, pesado, encanecido de ferrugem, que serve de acesso à velha residência. Passa-se pelos portões e se caminha cerca de vinte minutos até o domicílio, ou carcaça do domicílio do caseiro por um logradouro estreito. O caminho foi invadido em alguns pontos pela grama e pelas daninhas, muito altas. Depois de cerca de mais dez a quinze minutos, chega-se ao casarão em ruína.
É uma construção isolada. A vegetação circunstante densa e supina, de forma que, dando-se às costas qualquer fachada, tem-se a impressão de que por quilômetros e mais quilômetros não há nada em volta além de gramíneas e arvoredos.
Muito já se fez para impedir os absurdos que tomam lugar entre suas paredes, que serão objeto destes breves capítulos; nada parece ter surtido efeito, entretanto. Amiúde bloquearam as entradas, por vezes pregando tábuas, por vezes fechando tudo com tijolos, e passaram correntes grossas entre as grades do portão. Dias depois estava tudo escancarado outra vez.

II

Nosso amigo foi deitar-se, nu como de costume, os óculos ainda na cara. Reparava para suas mãos, os pelinhos nas falanges, os nós dos dedos. Via o abdome cavado entre as costelas, o membro serenado, de esguelha, o prepúcio abotoado como uma gêmula. Dormiu, e acordou de manhã.
A língua esbranquiçada, o paladar acerbo na boca; escovou os dentes mirando sua própria fronte no espelho: os óculos, os cravos no nariz, o rosto fino, os cabelos escuros; uns pontinhos pretos debaixo das ventas e na ponta do queixo, rudimentos de barba que ele tirava dia sim, dia não; um tufo de pelos no meio do tórax e em volta dos mamilos. Lavou o suor do corpo e se secou com a toalha velha, manchada de água sanitária. Pôs a cueca no cesto de roupa suja e desceu para tomar café.
Enquanto mastigava sua broa de milho, sentia pulsar a região meridional à recordação dum ânus rosado, incomumente aberto, liso, uma planta carnívora, e a parede a sua frente desbotava, sua boca semiabria-se e um espasmo fez fremir sua cabeça por sobre os ombros.
O dia se arrastou e a cada hora que se sucedia, havia a impressão de que um Aquiles se aproximava mais e mais duma tartaruga sem que jamais a alcançasse. Mas se o tempo não é dado a favores, tampouco se ocupa de pôr empecilhos ao que se passa por estas bandas. E assim, em sua décima milésima consulta ao relógio, era hora de ir.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sumido

Eu sei que estou sumido, mas voltarei em breve. Estou ocupadíssimo com as minhas leituras (tenho lido cerca de dois livros (enormes) por semana), e mal posso esperar para diverti-los com os meus escritos, se é que eles se prestam a divertir. Eu sou assim, não escrevo por obrigação: espero a vontade chegar. Agora estou leitor, em alguns dias volto a escrever.

Abraço para todos os queridos leitores.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Sensação espasmódica


ah, onda como um espasmo freático! arrancando gozo dos meus lombos e incômodo no meu períneo.
frêmito este à cintura dos mamilos rijos e rosados que querem se encher de leite e não podem...
quem me dera verter um rio de humores corporais como uma mamífera gorda e prenhe
e que as minhas tetas doessem e inchassem, sanguíneas e purulentas
ah, a aleitar dum leite rosé e agridoce garotos brancos e impúberes e tocar seus membros minúsculos lascivamente como uma mãe ou um pai...

(aquele João que por hora entretém-se com o laptop no segundo andar desse prédio beira-orla de Icaraí e que vejo da janela do ônibus servia para esse fim...)

ah, e esses que trazem sempre umas porras duns fones grudados às orelhas
e se exercitam nos aparelhos dispostos no calçamento
com seus pelos que mal adolescem...
...ir por eles através como a música que os embala...
uma alma convertida em dados numéricos que corre nos fios como o sangue corre nas veias, e acalora os músculos, e faz fricção das cartilagens entre osso e osso...
os que correm nos passeios, suados, com shorts curtos
cujas pirocas se sobressaltam tresloucadas
na dinâmica motora
da sua atividade